Projeto Pastoral 2020-2023 | Diocese Bragança-Miranda

APRESENTAÇÃO

O ser Igreja é um desafio dinâmico e diário para cada cristão e para as nossas comunidades.

Ao iniciarmos um novo projeto pastoral temos presentes as palavras que o nosso Bispo escreveu na Nota Pastoral “Dom da caridade e mistério de eterna Vida «Eu sou a ressurreição e a vida... Acreditas nisto?» (cf. Jo 11, 1-44), “O Papa Francisco impele a Igreja para uma cultura eucarística, onde se evidenciem as atitudes: da comunhão, do serviço, da misericórdia: «capaz de inspirar os homens e as mulheres de boa vontade nos âmbitos da caridade, da solidariedade, da paz, da família, do cuidado da criação». A Eucaristia, dom da caridade e mistério de vida eterna santifica a Igreja, ou melhor, “a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”. «Acreditas nisto?» (Jo 11, 26).”

Urge acreditarmos na Igreja una, santa, católica e apostólica que vive da Eucaristia e desta Fonte e Ápice são geradas as diversas comunidades cristãs unidas e vinculadas ao mandamento novo da caridade “amai-vos uns aos outros. Assim como Eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo  13,34) e do qual cada batizado  precisa de dar testemunho translúcido.

Este Projeto Pastoral propõe-se a uma peregrinação íntima ao coração da Igreja feita com o coração de cada um dos diocesanos e das comunidades cristãs para podermos reconhecer como é bela a essência da Igreja, mistério que só pode ser acreditado por aqueles que vivem radicalmente a vocação de discípulos missionários de Jesus Cristo, assim como o perigo de desvirtuamos o Corpo místico do Senhor quando nos excluímos ou desfocamos a nossa presença neste Corpo que tem Cristo por cabeça.

A Igreja é Casa para estar com o Belo Pastor, onde podemos saborear e ver como o Senhor é bom (Cfr. Salmo 34 (33), 9) e Dele aprender a verdade de Deus, mas é também Porta para a missão. O Papa Francisco recorda-nos na Evangelii Gaudium que “a intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão «reveste essencialmente a forma de comunhão missionária» … A Igreja «em saída» é a comunidade de discípulos missionários que «primeireiam», que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam” (EG 23.24).

Jesus provoca a Sua Igreja para que se envolva, acompanhe e frutifique com a proposta “sede misericordiosos como o Vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36), o Papa Francisco sonha com uma Igreja pobre para os pobres, e assim, pretendemos incrementar o compromisso individual e comunitário com o exercício das obras de misericórdia.

Todo este projeto pastoral é orientado, iluminado, concretizado e celebrado com a Jornada Mundial da Juventude, que se realiza em Portugal em 2023 e tem como tema uma passagem do Evangelho de São Lucas sobre à visita da Virgem Maria à sua prima, Santa Isabel, mãe de São João Batista, “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39).

FONTE BÍBLICA

Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39)

VISÃO

Uma Igreja serva que educa, celebra e festeja

META

A Igreja consciencializar-se de que é sinal e instrumento da presença de Cristo no mundo.

OBJECTIVO

Ter a ousadia e a criatividade pastoral de repensar objetivos, estruturas, estilo e métodos evangelizadores para “transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação” (EG 27) sendo um centro propulsor do encontro com Cristo.

TEMA GERAL

Igreja é missão.

SLOGAN

Tu interessas-me!

ORAÇÃO

 

Senhor, Pai de infinita bondade,

é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação

dar-Vos graças e cantar-Vos um hino de glória e de louvor.

Pela palavra do Evangelho do vosso Filho de todos os povos, línguas e nações formastes uma só Igreja,

pela qual, com o poder vivificante do vosso Espírito, continuais a congregar numa só família

os homens de toda a terra. Manifestando a aliança do vosso amor, ela oferece a todos os homens

a gloriosa esperança do vosso reino

e resplandece no mundo como sinal da vossa fidelidade que em Jesus Cristo, nosso Senhor,

prometestes para sempre.

FUNDAMENTAÇÃO

O Projeto Pastoral Uma Igreja serva que educa, celebra e festeja para a Diocese de Bragança-Miranda concretiza-se em três anos nos quais somos desafiados a refletir, como os Padres conciliares numa atitude sinodal e colegial, sobre o que a Igreja diz de si mesma e aquilo que ela tem para dizer ao mundo de hoje, mas também a auscultação do que o mundo diz à Igreja com as suas dores e esperanças. O impulso para este Projeto Pastoral advém das palavras de S. Paulo VI “A Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre o seu próprio mistério (...). Desta consciência esclarecida e operante deriva espontaneamente um desejo de comparar a imagem ideal da Igreja, tal como Cristo a viu, quis e amou, ou seja, como sua Esposa santa e imaculada (Ef 5, 27), com o rosto real que a Igreja apresenta hoje. (…) Em consequência disso, surge uma necessidade generosa e quase impaciente de renovação, isto é, de emenda dos defeitos, que aquela consciência denuncia e rejeita, como se fosse um exame interior ao espelho do modelo que Cristo nos deixou de Si mesmo” (ES 10-12) e do Decreto conciliar sobre o ecumenismo Unitatis Redintegratio Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação. (…) A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma” (UR 6).

A missão da Igreja é prolongar a presença de Jesus Cristo na terra. Assim, a Igreja é uma realidade complexa (LG8) que assume o mistério de comunhão trinitário e reveste-O de gestos visíveis e compreensíveis para humanidade. A Igreja não vive de si nem para si, mas é portadora da proposta do Reino de Deus (Lc 4, 43), é enviada por Jesus Cristo como Sacramento e instrumento da Salvação oferecida por Deus (LG 1).

O Papa Francisco vê a Igreja como uma comunidade em tensão entre dois momentos, simbolizados pela imagem de dois abraços de Deus: o abraço batismal que o Pai nos dá no início de nossa vida cristã e o abraço final com que Ele nos espera um dia na glória, abraço misericordioso de quem perdoa as nossas infidelidades cometidas desde o primeiro abraço. A Igreja constitui esse tempus medium que evangeliza entre essas duas manifestações do amor do Pai (EG 144), doando-se para a maior glória do Pai que nos ama (EG 267).

Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco realça alguns desafios que se colocam à Igreja como sacramento e mistério de comunhão e que marcam o nosso roteiro pastoral:

  1. Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!” (EG 83), pois há o perigo da “acédia pastoral” (EG 81-81) que só gera escuridão e cansaço interior e corrói o dinamismo apostólico.
  2. Não deixemos que nos roubem a esperança!” (EG 86) pois o derrotismo, o pessimismo e o desencantamento são formas de “desertificação espiritual” que tornam a vida cristã estéril.
  3. Não deixemos que nos roubem o Evangelho!” (EG 97) pois o perigo do mundanismo espiritual gera uma vida cristã narcisista e autoritária, discriminante e moralista, que concretamente se expressa no fascínio exibicionista da liturgia, da doutrina, do prestígio ou num funcionalismo empresarial que visa apenas a Igreja como instituição (EG 95) perdendo a sua dimensão escatológica.
  4.  “Não deixemos que nos roubem o entusiasmo missionário!” (EG 80) pois o individualismo, a crise de identidade e o declínio de fervor de alguns agentes evangelizadores geram desconfiança da mensagem da Igreja  e  desencanto   do   Evangelho   (EG 78-79) promovendo um acentuado relativismo prático, que faz “agir como se Deus não existisse”.

  5. Não deixemos que nos roubem a comunidade!” (EG 92) pois é urgente apresentar ao mundo um Jesus Cristo verdadeiro, que se fez carne e se compromete com a história humana lutando, assim, contra a tentação imanentista de espiritualidades subjetivistas sem rosto e sem carne que são riscos para a vida cristã hoje (EG 90).

  6. Não deixemos que nos roubem o amor fraterno!” (EG 101) pois a Igreja, também, sofre dores provenientes de tensões e conflitos internos, como inveja, ciúmes e brigas (EG 98-101), mas na diversidade, na pluralidade e na multiplicidade podemos construir a unidade da comunidade (EG 131).

O Igreja é povo de Deus, santificado, escolhido, convocado com a missão de ser fermento de Deus na humanidade, mas este processo vivificante do Espírito Santo, exige-nos paixão por Jesus e, simultaneamente, pelo povo (EG 268-270).

A Igreja é comunhão como se foi demonstrando aos poucos na eclesiologia conciliar, muito embora, em nenhum momento, o Concílio defina a Igreja explicitamente nesses termos. No primeiro milénio, entendia-se por communio a participação na vida de Deus, comunhão com Ele através da Palavra e dos sacramentos. Assim vivendo, os cristãos vivem a comunhão também entre si, de modo que a eclesiologia de comunhão se refere à communio entre as várias igrejas fundadas na Eucaristia. Escreve Louis-Marie Chauvet que “a primeira atitude cristã, quando se chega à assembleia dominical não é a de pôr a cabeça entre as mãos, tapar os ouvidos e fechar os olhos, a fim de se poder abrigar no coração-a-coração com Deus; é acolher estes “outros” que são dados por Deus a cada um como o seu próximo mais chegado para amar; mais ainda, como membros do mesmo Corpo ou como pedras vivas do mesmo Templo”.

A Igreja é ministerial, pois nela “todos são iguais em dignidade, embora diferentes na função”, pois o tronco comum de todos os membros da Igreja são os sacramentos de Iniciação cristã. Neste sentido é bem explícita a afirmação de Louis-Marie Chauvet “presidir em nome de Cristo significa chamar a assembleia a ser inteiramente ativa em Cristo”, mas apesar de um florescimento laical na vida da comunidade continua a haver um excesso de clericalismo, que centraliza as decisões nas mãos de uns poucos. O Papa Francisco lamenta: “Apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais, este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico; limita- se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade. A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral” (EG 102).

A Igreja é uma Comunidade de discípulos missionários que se encontra e vive com Cristo e desta relação nasce a fecundidade missionária. Assim o Santo Padre diz-nos que prefere uma Igreja acidentada, ferida, enlameada porque enfrenta riscos e desafios (EG 61), do que uma Igreja enferma pelo encerramento, pelo medo e pela comodidade da segurança (EG 49), com uma linguagem que fale às pessoas de hoje com um coração materno-eclesial para superar a predominância do administrativo sobre o pastoral (EG 63), e mantenha abertas as suas portas (das igrejas e do coração) (EG 46-47). O teólogo Tomás Halík meditando sobre as Igrejas vazias pela pandemia “Talvez este tempo de edifícios eclesiais vazios ponha simbolicamente em evidência o vazio escondido nas Igrejas e o seu possível futuro – se não fizermos uma séria tentativa de mostrar ao mundo um rosto do Cristianismo completamente diferente… passar radicalmente de um estático «ser cristãos» a um dinâmico «tornar-se cristãos» … hoje, Cristo está a bater a partir do interior da Igreja e quer sair. Talvez seja aquilo que acabou de fazer”.

O roteiro deste projeto pastoral implica um plano pastoral a ser vivido por toda a Igreja diocesana, arciprestal, paroquial e familiar assumido de forma vinculativa, criativa e participativa. O Projeto Pastoral, operacionalizado em 3 planos pastorais diocesanos, só deixa de ser um fardo pesado se cada comunidade discipular missionária planear e executar o seu próprio percurso em harmonia com o da Diocese. Não é uma questão de uniformizar, mas de criar pontes e sinais de comunhão diocesana e de ritmos singulares, onde juntos possamos responder ao desafio contemporâneo apresentado por Tomás Halík “Onde é a Galileia de hoje, onde podemos encontrar o Cristo vivo?... O Senhor já bateu à porta a partir «de dentro» e saiu; a nossa missão é procurá-lo e segui-lo... Reconhecê-lo-emos nas suas feridas, na sua voz, quando nos falar intimamente, no Espírito que traz paz e afasta o medo”.

 

Bibliografia Orientadora (em atualização)