Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria | Homilia de D. Nuno Almeida | Diocese Bragança-Miranda
Santuário diocesano da Senhora da Assunção
Vilas Boas, Vila Flor
15 de agosto de 2023
1.”Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Todos sabemos que foi este o lema bíblico da Jornada Mundial da Juventude. Como foi bom ver que um milhão e meio de jovens saiu da sua casa, da sua terra e do seu país como peregrinos da alegria do Evangelho.
Falando aos 25 mil voluntários, o Papa Francisco afirmou: “Vós correstes muito, mas não uma corrida frenética e sem objetivo, que o nosso mundo, por vezes, exige. Não. Correstes de uma forma diferente, fizestes uma corrida que leva ao encontro com os outros, para servir os outros em nome de Jesus”! Também nisto Maria nos serve de exemplo: correr para servir. Em Fátima, o Papa aprofundou a beleza desta imagem de Maria, quando lhe deu o título de «Nossa Senhora apressada»! Então, que a nossa pressa ansiosa dê lugar à pressa de Maria, a pressa do amor solícito, a pressa do anúncio feliz, a pressa da salvação oferecida.
2.O Evangelho, deste dia solene da Assunção, apresenta-nos Nossa Senhora Peregrina. Levantou-se e põe-se apressadamente a caminho para ajudar a sua prima Isabel.
Neste dia em que com toda a Igreja contemplamos a Assunção, ou a Ressurreição de Maria, é importantíssimo nunca nos esquecermos de olhar para o caminho que até lá conduz. É certo que Maria aparece vitoriosa na narração do livro do Apocalipse, mas é certo também ter enfrentado o dragão, símbolo do mal destruidor.
É também verdade que a segunda leitura nos apresenta Maria como a primeira beneficiária da força da Ressurreição de Jesus, mas não esqueçamos que Ela é a Senhora das Dores de pé junto à Cruz de seu Filho.
É grande a bem-aventurança que a sua prima Isabel lhe proclama, como abismal é a profundidade, o alcance e a beleza do cântico do Magnificat – classificado pelo Papa Paulo VI como o “cântico mais revolucionário do Evangelho”!
É preciso que sempre recordemos: Maria, a Mãe de Jesus, pelos duros trilhos da serra, percorreu o caminho da fé na luta e na dor, na adesão e no risco. Desafiou o mundo com a sua humildade. Viveu com o Filho. Sofreu com Ele. Deixou-se crucificar, com Ele, na Cruz das suas Dores. Por isso, terminado o percurso da sua vida terrestre, Maria ressuscita com o Filho.
Na Assunção, Maria torna-se a estrela que a Igreja contempla na sua glória, como quem vislumbra o futuro.
3.Irmãos e irmãs, o mês de agosto é sempre o mês de todas as pressas e partidas, das viagens, de idas e regressos, dos encontros e reencontros entre familiares e amigos, é o mês das migrações e peregrinações, das visitas e dos encontros inesperados! O desafio espiritual é fazermos estas viagens com aquela pressa de Maria por Se levantar e levar Cristo aos outros, em palavras que salvam, em gestos de ternura. Aprendermos com Nossa Senhora as sermos discípulos felizes, fiéis, fiáveis, responsáveis e missionários!
Como é bela a imagem e interpelativa a mensagem desta longa viagem de Maria, que Se põe a caminho, com toda a pressa! Agraciada pela surpresa de uma maternidade divina, Maria não fica por casa, a contemplar-Se, orgulhosa de Si, no espelho das suas virtudes! Ela é, de facto, a “Senhora da prontidão” (EG 288), que abriu caminho a Deus, levanta-Se, põe-Se a caminho, faz-Se portadora, no seu seio, do Evangelho vivo, Jesus Cristo, traduzindo-O em palavras de saudação, em gestos concretos de caridade em favor de Isabel, no momento delicado da gravidez, mais precisa de ajuda!
4.O caminho de Maria foi simples e de abertura total. Maria não jogou à defesa nem se escondeu no seu jogo. Nela o Espírito de Deus encontrou o que procurava: disponibilidade total e confiança ilimitada. Maria arrisca um caminho novo, desconhecido, desprotegido.
Maria não vai nem pelo caminho mais seguro nem pelo caminho mais fácil. Maria vai pelo caminho mais fiel. Em cada passo do seu caminho, Maria discernia a vontade de Deus.
Contemplando Maria, Senhora da Assunção temos consciência de que somos um povo peregrino de céu, mas com os pés bem assentes na terra!
Cada um de nós, como peregrino do Céu e imitando Maria, olha para o alto e para o lado. Levanta o olhar para Deus-Amor e presta toda a atenção ao irmão e irmã de quem procura sempre fazer-se próximo.
Olhamos para o alto e oferecemos com amor e respeito, as nossas mãos para samaritana e marianamente partilhar, cuidar, ajudar, amar!
Sabemos bem que um peregrino à maneira de Maria não é um turista, um viajante ou um errante aventureiro. Sabe o que quer, o que procura, para onde vai. Sabe o que tem, o que pode, o que precisa. Sabe pedir, sabe cair, sabe recomeçar, sabe esperar. O peregrino caminha sem tempo. A sua urgência não é chegar, é deixar-se transformar. Este é o milagre do caminho. O peregrino não se avalia pelas bolhas, pelas dores, pelos quilómetros percorridos. O peregrino quer ser transformado. Cada passo é uma possibilidade e uma esperança.
5.Imitando Maria, Senhora da Assunção, Senhora da Prontidão queremos hoje comprometermo-nos a ser peregrinos para servir e amar os irmãos, especialmente os que estão mais sós.
Temos Mãe! Temos Mãe! Sim, Maria é, para o povo de Deus peregrino, “sinal de esperança segura e de consolação” já no tempo presente, o tempo da luta e do combate. Deus tem o futuro nas suas mãos; é o amor que vence e não o ódio; no final é o Príncipe da Paz que vence!
O caminho apressado de Maria desafia-nos a todos nós, aqui presentes, a dizer “não” à comodidade que nos paralisa; a vivermos como gente viva e ressuscitada, gente animada e mobilizada, gente que se levanta do túmulo da indiferença que mata, para viver uma existência orientada para Deus e voltada para os irmãos, peregrinos que olham sempre para o alto e para quem está ao seu lado!
Maria, Senhora a Assunção:
Tu resplandeces sempre no nosso caminho
como sinal de salvação e de esperança.
Confiamo-nos a Ti,
Tu que junto da Cruz foste associada à dor de Jesus,
mantendo firme a tua fé.
Tu, Salvação do Povo de Deus,
sabes bem do que mais precisamos
e estamos seguros de que proverás
para que, tal como em Caná da Galileia,
possa voltar a alegria e a festa do encontro
depois deste momento de provação.
Ajuda-nos, Mãe do Divino Amor,
a conformar-nos com a vontade do Pai
e a fazer aquilo que Jesus nos disser,
Ele que tomou sobre Si os nossos sofrimentos
e carregou as nossas dores,
para nos conduzir, por meio da Cruz,
à glória da Ressurreição. Amen!
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda