Apresenta-se, na íntegra, a Comunicação proferida por D. José Cordeiro na edição de 2016 do "Smart Travel", no Teatro Municipal de Bragança, em 02.12.2016.

Habitualmente associamos a palavra SMART a inteligência, rapidez de raciocínio. No entanto, em inglês esta palavra está também associada a aspetos de boa aparência, elegância. Ex: You need to dress smart when you go to a job interview. / Tens que te vestir de modo elegante para a entrevista de emprego.

1. A Elegância do Ouriço e da hospitalidade

É o título de um livro de Muriel Barbery e depois filme; é um romance que me fez pensar: pequenos gestos, palavras e olhares que abrem os corações; sofrimentos, que mudam as vidas. Paloma explica o que é um ouriço: “A senhora Michel tem a elegância do ouriço: exteriormente, está coberta de espinhos, uma autêntica fortaleza, mas pressinto que, no interior, também é tão requintada como os ouriços (...)”.

Este ouriço, animal, pode ser coligado ao ouriço, origem da castanha, “Ouro ou Petróleo”, transmontano. É também esta experiência que muitas pessoas fazem quando visitam Bragança pela primeira vez.

Nas palavras do Papa São João Paulo II, o turismo «parece sempre mais "a casa de todos"» (São João Paulo II, saudação ao Secretário-Geral da ONU, 2 de Outubro de 1979)”.

E ainda, o turismo é: «realidade de alcance planetário; (...) um fenómeno social, cujo recto desenvolvimento não pode prescindir do respeito dos valores morais e espirituais». (27 de setembro de 1982, o Papa São João Paulo II, disse a propósito do III Dia Mundial do Turismo). De facto, o turismo, eleva-se a tal importância até ser indicado como um dos "sinais dos tempos", é realidade capaz de modificar de maneira profunda as condições sociais, a mentalidade e os costumes da presente geração. (...)

O turismo religioso, não tendo de ser à partida exercido por motivos nem por pessoas com carácter religioso, pode ser, deve ser, entendido num sentido pastoral, capaz de interpelar religiosamente os seus protagonistas e desencadear neles uma motivação para um questionar da interioridade da pessoa humana ou para a descoberta duma dimensão transcendente da vida.

2. O Serviço Diocesano da Pastoral do Turismo

É, por isso, que em 2013 criámos na Diocese de Bragança-Miranda, o Serviço Diocesano da Pastoral do Turismo e que os feitos realizados, por este serviço, têm razão de ser.

As atividades desenvolvidas pela Pastoral do Turismo da Diocese de Bragança Miranda (PTBM)¹, no âmbito da sua ação e intervenção, prosseguindo as orientações nacionais da Obra Nacional da Pastoral  do Turismo e a sua “Missão” de promover o turismo à luz da Doutrina Social da Igreja, procuram dar uma “atenção particular à dignidade da pessoa humana e à promoção do bem comum”². De uma forma inclusiva e abrangente, que corresponda ao tempo de grande mudança que a sociedade de hoje experimenta constantemente, indo ao encontro da intenção e utilizando a linguagem com que o Papa Francisco nos convida: “a linguagem da fraternidade e da beleza da nossa relação com o mundo”³.

Considerando que o Turismo é uma realidade social, à qual a Igreja deve prestar uma atenta solicitude, os principais objetivos deste serviço diocesano, são:

• fazer brilhar sobre o Turismo a luz do Evangelho;
• potenciar as motivações da fé e a procura do bem e da beleza inscrita no ser humano;
• contribuir para o desenvolvimento integral do Nordeste Transmontano⁴.

Saber acolher os turistas nos nossos monumentos religiosos, fazê-los participar em atividades que despertem a sua busca espiritual, dialogar usando os instrumentos modernos de comunicação e incentivando para uma dimensão transcendente algo que era apenas motivado por curiosidade cultural ou prática de ocupação de tempos livres, são tudo diferentes facetas das preocupações subjacentes às realizações da PTBM.

Percursos pedestres organizados, peddy papers com crianças, tour virtual, folhetos explicativos da história das igrejas, livros de visitantes nas igrejas, o passaporte do peregrino, o estímulo à visita e à curiosidade pela arte e pela história do património religioso, a actividade “Ao encontro da Porta Santa”, são apenas alguns dos exemplos de actividades desenvolvidas nesta Diocese.

O Papa Francisco refere na CARTA APOSTÓLICA MISERICORDIA ET MISERA de 20 de novembro de 2016: «Numa cultura frequentemente dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens. Com efeito, o futuro parece estar refém da incerteza, que não permite ter estabilidade. É assim que muitas vezes surgem sentimentos de melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a pouco, levar ao desespero. (Flp 4, 4; cf. 1 Ts 5, 16)».

A tecnologia deve ser encarada como um importante instrumento, um meio facilitador, mas que não pode substituir a relação humana,  e de verdadeira experiência turística. O turismo proporciona, a cultura do encontro, uma atividade de pessoas e para pessoas, que permite quebrar a melancolia, trazer esperança e desenvolvimento aos territórios. No fundo trazer a alegria verdadeira que é Jesus Cristo.

3. Alguns desafios

Já algo está a ser feito mas há ainda muito trabalho a realizar na Diocese de Bragança-Miranda para que o Turismo Religioso possa cumprir, na sua plenitude, as diferentes valências que, sob o ponto de vista cultural e religioso, possui.

Alguns desafios:

- Identificação e sinalética das igrejas e templos;

- Acessibilidade às igrejas e monumentos e informação para os visitantes⁵;

- Existência de pessoas disponíveis para serem guias-intérpretes ou até, simplesmente, porteiros da chave das igrejas.

- Há que dotar de modernos instrumentos de informação electrónica e de disponibilidade na web, assim como textos redigidos para a compreensão do grande público com qualidade e autenticidade histórica e, ao mesmo tempo, com conteúdo formativo e relevante do ponto de vista religioso.

Tal como os ouriços das castanhas, também as dificuldades que sentimos neste território, são desafiantes oportunidades e portas abertas a todos.

E se noutros tempos o castanheiro foi como “a árvore do pão”, também hoje pode ser um feliz símbolo na oportunidade de crescimento e de ecologia integral.

Espero que o turismo possa contribuir positivamente para a afetiva e efetiva construção da “casa de todos” nestes montes de luz e de paz.

Bragança, 2 de dezembro de 2016

+ José Manuel Cordeiro

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