Pe. Delfim Gomes alerta para números da pobreza | Diocese Bragança-Miranda

Hoje, mais do que nunca, é tempo de falar sobre a pobreza. Esse foi o mote de um livro, da autoria do Pe. Delfim Gomes, que resultou do estudo que fez para a sua dissertação de mestrado, e que foi apresentado na Casa Episcopal na última sexta-feira, durante uma aula do Instituto Diocesano de Estudos Pastorais.
“Não queremos tratar nem escalpelizar os números mas é aflitivo e ensurdecedor quando vemos que quase metade da população mundial passa privação, é pobre. Por isso, quando alguém, independentemente de ser religioso, uma pessoa de bem que se preze tem de ter em atenção o bem do próximo. E o próximo está a passar privação e precisa de ajuda”, frisou o sacerdote.
Para o pároco de Vila Flor, a primeira conclusão, “de acordo com a Doutrina Social da Igreja, é que esta situação é tão alarmante que não se muda com pequenas coisas”. “Muda-se se mudarmos as estruturas, se houver mudança de mentalidade, se nós mudarmos o nosso olhar para com o outro. E esta mudança de olhar vai de encontro à sua necessidade. Por aqui também passa a palavra do bom samaritano, nas suas necessidades, nos seus problemas, naquilo que ele precisa efetivamente para ser feliz”, sublinhou.
Presente esteve Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Nacional, que reforçou a necessidade de um plano para a erradicação da pobreza.
“Mais do que um testemunho, é uma decisão convicta, de todos os cidadãos. Primeiro, reconhecendo que estamos perante um drama social, que é altamente prejudicial para o progresso sustentado e humanizado de qualquer sociedade.  Depois, não é uma fatalidade. É consequência de um sistema económico que privilegia sobretudo dimensões que são, sem dúvida, importantes como é o gerar a riqueza para depois a poder aplicar, explorando aqueles que deviam estar no centro dessa economia, que é a pessoa, e exploram-na no sentido de lhes negar o acesso ao trabalho por força do avanço tecnológico. E, por outro lado, fazer com que se produza muito para se obter maior lucro. Portanto, o lucro sobrepôs-se ao respeito pelo direito e o dever que as pessoas têm ao trabalho. Por isso, não podemos olhar para a pobreza como algo que tem de existir, que não pode ser de outra maneira”, frisou Eugénio Fonseca. O responsável pela Cáritas nacional denuncia que “não tem é havido vontade política a nível nacional e global, para que se invista, porque isso terá de mexer com alguns interesses e privilégios, porque estamos a falar de desigualdades.  Para tornar o fosso entre ricos e pobres menos escandaloso, alguns têm de ceder”, avisa.
Eugénio Fonseca diz que isso só se consegue “através de uma reforma fiscal mais justa, porque é aí que está a possibilidade de redistribuição da riqueza, pela opção concreta de respeito pela dignidade das pessoas e aqui entra o problema da educação, que não é só escolarização – estou a falar de valores. E há valores que têm estado esquecidos, como uma solidariedade que não seja apenas conjuntural mas que seja feita cultura. Uma justiça que seja olhada na perspetiva do bem comum e não só dos interesses individualizados”. Por isso, diz que em Portugal “ tem de aparecer, o mais depressa possível, uma estratégia nacional para a erradicação da pobreza, a pobreza absoluta”, sublinhou.

Parceria com o IPB para a atribuição de um prémio
Já o bispo diocesano, D. José Cordeiro, alerta para a pobreza como “uma situação alarmante dos nossos dias, de um modo especial das relações humanas, das relações de vizinhança que em muitos lados se está a perder”.
Entretanto, foi também anunciada uma parceria entre a Editorial Cáritas, a diocese de Bragança-Miranda e o Instituto Politécnico de Bragança para a entrega de um prémio anual que distinga os trabalhos de investigação ali realizados. “O desafio que a editorial Cáritas fez e está a fazer a todas as dioceses e junto de uma instituição de ensino superior será, juntamente com a Cáritas diocesana, de atribuírem um prémio anual, encontrando no próprio território e na realidade diocesana um patrono para esse prémio. Estamos a procurar alguém que dê nome ao prémio e que seja uma pessoa que se tenha dedicado à caridade e à pastoral social”, explicou D. José Cordeiro, que considera esta iniciativa como “um incentivo à investigação e ao contributo de uma caridade inteligente e de um novo humanismo, da dignidade da pessoa humana e, com estes novos gestos, contribuir para uma nova ética social, uma nova amizade social”.

Texto: Mensageiro de Bragança  | Fotografia: Comunicações Sociais Diocese