«Pastores, próximos do próximo» Homilia da Ordenação de 2 Presbíteros e 1 Diácono | Diocese Bragança-Miranda
Catedral de Bragança
Domingo, 10 de julho de 2016
Ordenação de 2 Presbíteros e 1 Diácono
Pastores, próximos do próximo
1. Proximidade do próximo
A parábola do Bom samaritano é iluminadora em toda a vida cristã e especialmente neste Ano Santo da Misericórdia. Este verdadeiro ícone do amor, mostra que a misericórdia não é um estilo de vida na Igreja, mas é o estilo do discípulo de Jesus Cristo. Ele próprio, sendo o narrador da parábola, põe-se na pele do samaritano e nos impele à ação de saída para fazer o bem: «então, vai e faz tu o mesmo».
Aqueles dois personagens da parábola mexem connosco – um sacerdote, um levita – olham mas não querem ver, passam ao lado com indiferença, como tantas vezes nós fazemos com o mais próximo que precisa de mim. O estrangeiro samaritano é que vê com os olhos do coração compassivo. O azeite e o vinho que se usa para curar as feridas são igualmente bálsamo da unção espiritual para um coração atento e generoso aos sofrimentos e as misérias dos irmãos, para sermos semelhantes a Cristo, o Bom Samaritano.
Ser próximo de quem precisa é também encontro com a Cruz florida da Páscoa de Cristo. O desejo de servir sempre e cada vez mais o Senhor e os irmãos faz-nos abraçar a cruz para sermos pastores próximos do próximo segundo o coração do Bom Pastor e do Bom Samaritano. Jesus Cristo não nos tira a cruz, faz-nos ver como se carrega, como simboliza a cruz da evangelização da Europa a partir da experiência das Jornadas Mundiais da Juventude e que neste Ano santo da Misericórdia acontecem em Cracóvia, a Diocese de S. João Paulo II, num «encontro de amor, sonhado por Deus e abraçado pelos jovens».
2. Sair do espelho
A «doce e reconfortante alegria de evangelizar» (EN 80) tem de constituir o zelo e o fervor de todo o ministério ordenado na Igreja. Com efeito, a Igreja, ou é missionária ou não existe. O programa vital é o de fazer, sair e recomeçar uma estrada com Jesus Cristo, isto é, sair do espelho. Estamos a viver uma mudança epocal que exige um maior discernimento a todos e a cada um. O ‘inverno demográfico’ que experimentamos nesta nossa amada Diocese é para nós uma oportunidade de mais proximidade, escuta e acolhimento de quem nos é próximo e não apenas de quem nos procura. Precisamos de ir à procura.
Caros Bruno, Ivo e Duarte, não vos contenteis em celebrar a Liturgia das Horas e dos Sacramentos e sacramentais e a piedade popular, mas fazei cristãos católicos no anúncio e no testemunho de Deus-Amor. Hoje nasceis como Presbíteros e como Diácono, para uma configuração a Jesus Cristo ao serviço da Igreja nesta realidade eclesial que peregrina aqui em Bragança-Miranda na comunhão com toda a Igreja una, santa, católica e apostólica.
3. A comunhão, é um dos nomes da Misericórdia
O Papa Francisco fala muito do “cenáculo do Presbitério”, que seja um lugar de paternidade e de fraternidade. Precisamos caros Presbíteros de construir juntos mais comunhão entre nós. De facto, «a comunhão, é um dos nomes da Misericórdia», ou seja, só no Mistério podemos viver o ministério.
Já fazemos alguma experiência de comunhão nos retiros, nas assembleias, nos arciprestados, nas Unidades pastorais, nos vários organismos de participação na Diocese, nas peregrinações, na visita pastoral, mas não basta. Cada vez mais somos convocados a partilhar, a repensar e valorizar e a promover mais a união e a paz entre nós. Temos muita admiração e gratidão pelos sacerdotes e pelo bem que eles fazem. Há que prosseguir com determinação e exigência este discernimento na fé, que começa no Seminário. Os Padres não se improvisam. Eles são gerados na oração e crescem na Igreja, comunhão da família de famílias e sobretudo com o testemunho alegre dos Padres felizes em Cristo.
Um padre, para ser padre, anda tantos anos juntos no Seminário para aprender a viver sozinho? Cada vez mais o Seminário não pode ser uma carreira para chegar ao presbiterado. Queremos ser sacerdotes e levitas ou pastores segundo o coração de Jesus Cristo, o Bom Samaritano?
O Bispo é chamado a viver a sinodalidade com os Padres e os Padres com os Leigos. É necessário cada vez mais, passar da colaboração à corresponsabilidade no Conselho presbiteral, no Conselho pastoral diocesano, no Colégio dos consultores, no Conselho pastoral da Unidade Pastoral, nos vários serviços... o perigo do clericalismo não deixa crescer a comunidade cristã. Somos apenas sacerdotes e levitas ou pastores próximos do próximo, configurados a Cristo Jesus?
A formação permanente do Clero que começa com a ordenação não é uma simples atualização, mas sim uma atitude e acompanha toda a vida e a vida toda.
O Beato Papa Paulo VI, quando proclamou S. Bento, padroeiro principal da Europa, chamou-o: «Pacis nuntius, effector unitatis...» (mensageiro da paz, artesão da unidade). Como S. Bento, padroeiro da nossa Diocese, o mistério do nosso ministério seja mensageiro de paz e artesão de unidade.
+ José Manuel Cordeiro







