Homilia de D. Nuno Almeida no 24º Aniversário da Dedicação da Catedral | Diocese Bragança-Miranda

24º ANIVERSÁRIO DA DEDICAÇÃO DA CATEDRAL
07.10.2025(18.00h)
Ne 8, 2-4ª; Ef 2, 19-22; Mt 16, 13-19
 
Homilia
Estimado Senhor Vigário-Geral
Queridos padres e diáconos,
Caríssimos seminaristas,
Irmãos e irmãs!
1.Eis-nos de novo reunidos, nesta bela e solene Catedral da nossa Diocese de Bragança-Miranda, guiados pelo Espírito que faz de muitos um só corpo, para celebramos o 24º aniversário da sua dedicação. A igreja Catedral é lugar da memória e da gratidão, ao mesmo tempo que é casa de oração e da escuta da Palavra de Deus, para uma igreja servidora na caridade, que educa na cultura evangélica e celebra o culto novo de Cristo. Culto, cultura e caridade entrelaçam-se, permanentemente, na Catedral.
Há um autor não crente que escreveu um livro, por estranho que pareça, com o título “Comboio Nocturno para Lisboa”, que dedicou uma especial atenção ao que significa a catedral numa cidade. Diz ele: “Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso da sua beleza e da sua transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo. Quero erguer o meu olhar para o brilho dos seus vitrais e deixar-me cegar pelas cores prodigiosas. Preciso do seu esplendor… Preciso do seu silêncio imperioso… Amo as pessoas que rezam. Preciso da sua imagem. Preciso dela contra o veneno insidioso do supérfluo e negligente. Quero ler as poderosas palavras da Bíblia. Preciso da força irreal da sua poesia… Um mundo sem estas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver”.
Na sua reposta à confissão de Pedro (Mt 16, 13-19), Jesus fala da sua Igreja: «Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja». Que significa isto? Jesus constrói a Igreja sobre a rocha da fé de Pedro, que confessa a divindade de Cristo
Sim, a Igreja não é uma simples instituição humana, como outra qualquer, mas está intimamente unida a Deus. O próprio Cristo Se refere a ela como a «sua» Igreja. Não se pode separar Cristo da Igreja, tal como não se pode separar a cabeça do corpo (cf. 1 Cor 12, 12). A Igreja não vive de si mesma, mas do Senhor. Ele está presente no meio dela e dá-lhe vida, alimento e fortaleza.
2.Que esta celebração fortaleça a fé que nos tem sido transmitida desde os apóstolos, e nos leve a colocar Cristo, Filho de Deus, no centro da nossa vida. “Sois edifício construído sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, que tem Cristo Jesus como pedra angular” (Ef 2, 19 – recordou-nos Paulo na Segunda Leitura.
Seguir Jesus na fé é caminhar com Ele na comunhão da Igreja. Não se pode, sozinho, seguir Jesus. Quem cede à tentação de seguir «por sua conta» ou de viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade, corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem falsa d’Ele.
Amemos a Igreja, amemos a nossa Igreja Diocesana com zelo e paixão, presente em cada uma das suas comunidades, que nos gerou na fé, que nos ajudou a conhecer melhor Cristo, que nos fez descobrir a beleza do Seu amor.
Que este dia e esta liturgia reforcem os laços da nossa unidade e favoreçam e fortaleçam a consciência de que a Igreja existe par evangelizar e deve reconhecer-se em estado permanente de missão.
3.A nossa Igreja Diocesana lança-nos, hoje, muitos desafios. A realidade social e pastoral, em que vivemos, exige de todos nós generosidade, coragem, muita confiança e também alguma paciência. Só assim, poderemos ir ao encontro dos homens e das mulheres do nosso tempo, das crianças, dos jovens, dos casais, dos mais idosos: para anunciarmos, celebrarmos e partilharmos a alegria e a esperança do Evangelho. Sejamos “peregrinos de esperança” para testemunhar que também hoje é possível, belo e bom pôr em prática cada palavra de Cristo, viver a nossa existência pessoal e relacional à luz do Evangelho.
O Jubileu que vivemos e celebramos convida-nos sempre a avançar, a peregrinar. Não tenhamos medo, não somos uma “igreja outonal ou invernal”, mas sim “igreja primaveril”, sempre a ser gerada e alimentada por Cristo!
4.Temos, hoje, mais consciência de que uma Igreja sinodal se funda no reconhecimento da dignidade comum derivada do Batismo, que torna todos os que o recebem filhos e filhas de Deus, membros da família de Deus e, portanto, irmãos e irmãs em Cristo, habitados pelo único Espírito e enviados para cumprir uma missão comum. Recordava-nos Paulo, na Segunda Leitura: “Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2, 19).
A comunhão e a missão nutrem-se da participação comum na Eucaristia, que faz da Igreja um corpo «reunido e unido» (Ef 4,16) em Cristo, capaz de caminhar em conjunto rumo ao Reino.
Uma Igreja sinodal é uma Igreja do encontro e do diálogo, que escuta e procura ser humilde, sendo capaz de pedir perdão e que tem muito a aprender. É aberta, acolhedora e abraça a todos, mas sabe propor e anunciar, respeitosamente, caminhos novos a partir do Evangelho, numa compreensão sempre mais profunda da relação entre o amor e a verdade.
5.São dirigidas a todos nós as palavras da Primeira Leitura: ”Hoje é um dia consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza” (Ne 8, 10).
Testemunhemos e levemos a alegria e a esperança do Evangelho a todos. Partamos juntos, sinodalmente, à procura dos melhores caminhos, na escuta recíproca e na atenção ao Espírito Santo, na certeza de que o mais importante é olharmos sempre para Aquele caminhante misterioso de Emaús que constantemente nos ilumina o caminho e nos fortalece com a Sua presença.
Assim seremos uma Igreja cada vez mais feliz, fiel e fiável: discípulas e discípulos missionários, de idades e condições diferentes, mas unidos no nome de Jesus. E Ele diz-nos de novo: “Não temais … Estou convosco até ao fim dos tempos”! (Mt 28, 20).
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda