Homilia de D. Nuno Almeida nas Exéquias de Adolfo Augusto dos Santos | Diocese Bragança-Miranda

Exéquias de Adolfo Augusto dos Santos

Falecido a combater os incêndios

Contins, Mirandela, 23.08.2025, 15.00h

Homilia

 

Caríssimos irmãos e irmãs,

1.Nesta hora de grande dor e de despedida, estamos reunidos ao redor da mesa da Palavra e da Mesa do Altar para celebrar a Páscoa de Cristo e nela enxertarmos a Páscoa do nosso irmão Adolfo Santos, a sua passagem deste mundo para a Casa do Pai. A morte, para quem vive unido a Cristo, não é o fim, mas o cumprimento. Não é um vazio, mas um encontro: o encontro definitivo com a plenitude do amor de Deus, que é fonte, sentido e destino da nossa vida. Por isso, desejo começar por uma palavra de profunda comunhão, amizade, conforto e paz dirigida aos familiares e amigos do nosso irmão Adolfo: à sua esposa Julieta, à sua filha Patrícia, aos seus netos e a todos os familiares.

2.O Adolfo Augusto dos Santos, nasceu aqui, em Contins, a 16/03/1960. Foi, certamente, batizado nesta Igreja. Casado com a Sra. Julieta, é pai da Patrícia e do Manuel com quem se vai reencontrar, pois faleceu há 12 anos. Tem 5 netos, a quem hoje queremos abraçar. Era manobrador de máquinas e agricultor, tendo socorrido muitos incêndios. Sempre disponível em situações de necessidade, ajudou todas as corporações de Bombeiros da nossa vizinhança. Esteve também a operar no grande incêndio do Pedrogão.

3.Está connosco o Senhor Presidente da República. Como é significativa e reconfortante a sua presença, em primeiro lugar para a família do Adolfo, mas também para todos nós! Está presente o Senhor Presidente da Câmara, o Senhor Ministro da Agricultura, o Senhor Secretário de Estado da Administração Interna, os Senhores Deputados à Assembleia da República (círculo de Bragança), o Senhor Presidente da Junta de Freguesia, as Autoridades e tantas Entidades locais. Em momentos assim, a proximidade, os gestos e palavras dão alento e esperança. Um muito obrigado ao Senhor Presidente da República, a todas as Autoridades e Entidade, e a todos os que estão a participar nesta celebração. Unidos manifestamos as mais sentidas condolências à família e amigos do nosso irmão Adolfo e agradecemos a sua coragem, generosidade e dedicação até ao extremo, demonstradas no combate aos incêndios.

Do Adolfo Santos permanecerá a viva recordação do seu serviço, no cuidado com a Casa Comum. Viveu para os outros e morreu pelos outros, por isso acreditamos que partiu transportado na força vitoriosa do amor de Cristo que de nós todos faz dom ao Pai para a comunhão dos Santos. É o apóstolo Paulo que nos recorda: “Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14, 8).

4.O Evangelho que escutámos (cf. Lc 13, 22-30) apresenta-nos Jesus que passa ensinando e multiplicando gestos de amor e libertação pelas cidades e aldeias, a caminho de Jerusalém, onde sabe que deve morrer na Cruz para a salvação de todos nós.

A meio desta peregrinação, fazem a Jesus uma pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvam? Para Jesus não importam as estatísticas. Ele nem sequer responde à pergunta que Lhe é dirigida. Só Lhe interessa uma coisa: que cada um de nós leve a sério a Sua oferta de salvação, de plenitude da vida, já desde agora – e que cada um de nós se apresse, corra: o tempo é breve, não podemos perder tempo.

Jesus não nos quer iludir e fala-nos da porta estreita. É uma «porta estreita», porque é exigente, pois o amor é sempre exigente, requer compromisso, ou melhor, «esforço», isto é, a vontade firme e perseverante de viver segundo o Evangelho. São Paulo chama-lhe «o bom combate da fé» (1 Tm 6, 12). É necessário o esforço de todos os dias, do dia inteiro, para amar a Deus e ao próximo.

O próprio Jesus é a porta, como Ele mesmo diz no Evangelho de João: «Eu sou a porta» (Jo 10, 9). Ele guia-nos para a comunhão com o Pai, onde encontramos amor, compreensão, amparo e a vida em plenitude! Acreditamos que assim acontece com o nosso irmão Adolfo por quem rezamos.

5.É hora de estar unidos de mãos dadas com os Bombeiros, GNR, Autarcas e todas as entidades nacionais e locais que combatem os incêndios. Não é momento para polémicas estéreis. É hora de prestamos homenagem às vítimas mortais e suas famílias. É o momento de rezarmos pelos feridos e por todos os que perderam os seus bens. É hora de apoiar quem perdeu os seus haveres, a começar pelos mais vulneráveis!

Desde o mês de julho, vários incêndios rurais de grande dimensão têm afetado sobretudo as regiões do Norte e Centro de Portugal (muito fumo temos respirado…!). De acordo com dados divulgados pela GNR registaram-se, até ao dia 13 de agosto de 2025, 5996 incêndios.

Queremos rezar e chorar, individual e comunitariamente, pelas vítimas dos terríveis e devastadores incêndios. Não podemos esquecer, nas nossas preces e partilha, os familiares em tribulação, os Bombeiros, a GNR, a PSP, a Polícia Judiciária, os Autarcas e Proteção Civil, os nossos Governantes e todos os que generosa e valentemente arriscam a sua vida para salvar pessoas e bens.

Não poderemos esquecer nunca as vítimas! Para além de muitas outras e importantes perguntas, permita-me, Senhor Presidente da República, deixar somente duas: 1. Porque se hesita e adia tanto em dar meios legais e financeiros às Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia para atuarem com eficácia na limpeza e ordenamento da floresta? 2.Não será possível investir, preventivamente, em “vídeo-vigilância florestal”, para que, localmente, se possa vigiar permanentemente a floresta, atacar o fogo logo no seu início e detetar presumíveis incendiários?

Confiemos o nosso irmão Adolfo ao amor misericordioso de Deus. Que o manto de Nossa Senhora envolva, nesta hora de dor e saudade, a sua esposa, filha, netos e demais familiares!

 

+Nuno Almeida

Bispo de Bragança-Miranda

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fotografia: Arquivo BLR