Mãe e Rainha de toda a criação - Solenidade de Nossa Senhora das Graças | Diocese Bragança-Miranda

Solenidade de Nossa Senhora das Graças

Catedral, 22 de agosto de 2016

Mãe e Rainha de toda a criação

 

1. Mosaico dos afetos

No contexto feliz do Ano da Santidade Misericordiosa, ao celebrarmos a solenidade da Senhora das Graças, como padroeira da catedral, da cidade e da Unidade Pastoral, somos envolvidos num mosaico dos afetos que Maria, Rainha do Céu e Mãe de Misericórdia nos ensina a acolher e a fazer.

Há 160 anos que Nossa Senhora das Graças é a padroeira da cidade de Bragança, há 15 anos que é titular da Catedral e há 4 anos que dá o nome à Unidade Pastoral. Assinalamos ainda os 59 anos em que o feriado municipal coincide com a celebração litúrgica da Virgem Santa Maria, Senhora das Graças (cf. Acta CMB 09.04.1957). Antes, o feriado calhava na solenidade de S. Bento, padroeiro da nossa Diocese, que se celebra a 11 de julho. Hoje comemoramos também os 68 anos da ordenação sacerdotal do D. António Rafael e já esta manhã na Fundação Diocesana Betânia o D. António Montes e eu, lhe manifestamos o abraço fraterno e grato da nossa amada Diocese.

O texto bíblico do evangelho segundo S. João, que escutámos, servirá de guião e de GPS para o Ano Mariano que a partir do I Domingo do Advento a Diocese irá viver em Ano Litúrgico-Pastoral, sendo uma metáfora do constante serviço de compaixão que a Igreja é convocada a realizar a toda a humanidade e a cada pessoa.

O primeiro milagre de Jesus relaciona-se, intimamente, com a sua missão, no qual se testemunha que a glória divina está presente desde o início da vida pública de Jesus, antecipando a sua manifestação plena. Como escreve um autor contemporâneo: «Jesus não inicia pelo templo, mas por uma festa. A festa é como uma catedral, um templo erguido não no espaço mas no tempo, no decorrer dos dias, no quotidiano» (E. Ronchi).

A certa altura o vinho faltou e Maria disse a Jesus: «não têm vinho». Estranhamente, Jesus responde: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora». O título ‘Mulher’ é repetido na hora da Cruz «Mulher, eis o teu filho!» (Jo 19,26), interpretando teologicamente, Maria, a Esposa do Senhor e Mãe da Igreja evangelizadora.

A resposta de Jesus parecendo estranha, pretende dizer que, enquanto Maria pensa no vinho da festa, Jesus pensa na sua missão, agora inaugurada. Todavia, Jesus realiza o milagre, transformando a água em vinho, mas o vinho bom que Ele dá é um sinal do vinho messiânico da sua missão. Na verdade, a hora de Maria coincide sempre com a hora de Jesus e ajuda a fé dos discípulos.

Maria participa da festa da alegria do amor da família, serve, ajuda, come, bebe, conversa, mas está atenta às coisas e capta o sentido global de todas. Isto permite-lhe ver o que ninguém vê, como o caso do vinho. A atenção é a qualidade humana necessária e prévia ao caminho espiritual.

2. Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação

«Fazei o que Ele vos disser»: eis as últimas palavras de Maria no IV Evangelho, às quais podemos chamar de último testamento de Maria. Agora vejamos como este imperativo mariano nos revela o mistério de Jesus. As palavras de Maria traduzem o seu Sim dado na Anunciação e convidam-nos a estar igualmente prontos a fazer o que Jesus Cristo nos pede, «porque o homem encontra o seu verdadeiro bem em fazer a vontade de Deus» (C. Martini).

O mistério de Caná abre a epifania da glória de Cristo e mostra a sua missão, a razão do seu ministério como graça sobre graça. Não se trata de uma fé nascida do milagre, mas de uma fé que soube ler e compreender o milagre da novidade e da abundância da bondade de Deus para os crentes.

O vinho ocupa o centro da narração evangélica, referido por 5 vezes. De facto, o vinho no mundo bíblico é símbolo do amor e da bênção abundante de Deus e símbolo do Reino que vem. O facto de não haver mais vinho no banquete significa que o reino ainda estava longe. A intervenção da Mãe não é uma intercessão de salvação, mas mais que isso é uma disponibilidade total de Maria à obediência, qual figura de Israel que acolhe as condições ainda desconhecidas da nova e definitiva aliança que Deus realiza em Jesus Cristo.

Maria, «Elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação» (Papa Francisco), interceda sempre por todos e cada um de nós, para que se transforme em vinho bom a água da nossa dor, sofrimento, tristeza, cansaço e angústia. Nunca avinagre este vinho bom por causa da nossa preguiça, calculismo, carreirismo, intriga, inveja, indiferença, guerra ou injustiça.

3. Um bragançano que espalhou o Bem

Mons. José de Castro é um ilustre Bragançano, mas desconhecido de muitos Bragançanos. No dia 26 de agosto ocorre o 50º aniversário da sua Páscoa eterna, no mesmo ano em que se celebra o 130º aniversário do seu nascimento. Por isso, é justo e necessário torná-lo presente neste dia de festa, até porque foi um vizinho, amigo e peregrino da igreja-santuário da Senhora das Graças.

Na edição de 2 de setembro de 1966, o Mensageiro de Bragança escreveu: «Depois do saudoso Abade de Baçal, Monsenhor José de Castro está a seguir no “jus” à gratidão das gentes de Bragança, cujo nome honrou, exaltando a sua terra – aqui e além: - Em Portugal, no Brasil, em Roma». Antes, na tiragem de 19 de Agosto de 1966, pode ler-se: «“Mensageiro de Bragança” que tanto lhe deve, como outras instituições da cidade, lembra Monsenhor José de Castro, na sua doença, e pede a Deus pelas suas melhoras, desejando vê-lo de novo, na sua Terra, na sua Casa, a espalhar o Bem – iluminado com o fulgor do seu espírito».

Mons. José de Castro foi um grande no Presbitério diocesano, como Pároco de Gimonde, Comissário da Ordem Terceira de S. Francisco, Conselheiro eclesiástico na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé (1930-1944), Reitor da igreja de Santo António dos Portugueses em Roma. Ajudou muito a Diocese, especialmente o Seminário, a Catedral e a Casa do Clero. Escreveu muitos livros que se mantêm referenciais ao nível diocesano, nacional e até universal, como o que grafou acerca da história da nossa Diocese, de Bartolomeu dos Mártires e de Portugal no Concílio de Trento.

Maria no meio da gente humilde e confiante, invocada na ladainha com os títulos mais significativos da nossa Diocese, como rezamos durante a novena preparatória e na vigília, nos ensine a fazer sempre o que Jesus Cristo nos disser na Sua Palavra, nos Sacramentos, na oração pessoal e familiar, na comunidade cristã, na prática do bem comum e da intocável promoção e defesa da dignidade da pessoa humana. Sejamos promotores da cultura da vida e da Esperança e não permitamos os atentados à vida humana: aborto, eutanásia, suicídio e outras formas de crueldade.

Neste dia rezamos, ainda confiadamente, por todos os migrantes e refugiados, por todas vítimas da violência, da fome, da guerra, do terrorismo, dos incêndios e de tantos males que nascem do coração das pessoas feridas que não são amadas e não sabem amar. Com Maria, Mãe e Rainha de toda a criação sejamos todos verdadeiros e autênticos artesãos da casa comum da criação que Deus nos dá como dom e responsabilidade.

+ José Manuel Cordeiro