"A ciência incha, o amor enche" | Diocese Bragança-Miranda
Bênção dos Finalistas IPB
Catedral, 23 de abril de 2016
V Domingo da Páscoa
A ciência incha, o amor enche
1. Só o Amor da Páscoa converte e salva
A liturgia deste dia mostra Jesus, no discurso de adeus aos seus discípulos, que cria o novo e definitivo testamento: «Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros». No âmago desta nova e eterna misericórdia está o sentido do amor a todos, especialmente aos que mais sofrem e até aos inimigos.
O Papa Francisco na exortação apostólica pós-sinodal «a alegria do amor na família», conhecida por «Amoris Laetitia» e que ontem foi apresentada aqui em Bragança, na igreja de Santa Maria no Castelo, diz claramente: «“a ciência incha”, ao passo que “a caridade edifica” (1 Cor 8, 1). Por outras palavras, alguns julgam-se grandes, porque sabem mais do que os outros, dedicando-se a impor-lhes exigências e a controlá-los; quando, na realidade, o que nos faz grandes é o amor que compreende, cuida, integra, está atento aos fracos». A ciência incha e o amor enche!
2. Família e trabalho
A Bênção que celebramos aqui na Catedral é um ato de gratidão pelo muito bem recebido e é, ao mesmo tempo, uma intercessão pelo futuro que agora começa. Estamos conscientes que: «O atual sistema económico produz várias formas de exclusão social. As famílias sofrem de modo particular com os problemas relativos ao trabalho. As possibilidades para os jovens são poucas e a oferta de trabalho é muito seletiva e precária. As jornadas de trabalho são longas e, muitas vezes, agravadas pelo tempo gasto na deslocação. Isto não ajuda os esposos a encontrar-se entre si e com os filhos, para alimentar diariamente as suas relações» (Francisco, AL 44).
O primeiro emprego é certamente a vossa grande expetativa. Nestes dias, durante a visita pastoral que estou a realizar à Unidade pastoral de Ansiães, encontrei um jovem de quem os pais se referiam como estando desempregado, tendo ele concluído um curso superior. Ainda assim, o jovem fez de imediato o reparo: «não estou desempregado, pois ainda não tive a oportunidade do 1º emprego, pelo qual anseio. Reze por mim!»
Há tantos jovens e bem qualificados a serem excluídos. Muitos têm mesmo de emigrar. Pedimos sinceramente a Deus que ilumine a inteligência e o coração dos responsáveis da política, da economia e da educação, a fim de alcançarmos num novo humanismo do trabalho, onde o centro de tudo seja o homem e não o lucro, onde a economia deve «servir ao homem» e nunca «servir-se do homem», como aponta a doutrina social da Igreja.
3. Santidade e Misericórdia
É urgente e necessário reaprender com criatividade e generosidade a gramática básica da Misericórdia. É um grande bem que revivamos concreta e intensamente as 14 obras de Misericórdia: As sete obras de misericórdia corporal: 1. Dar de comer a quem tem fome 2. Dar de beber a quem tem sede 3. Vestir os nus 4. Dar pousada aos peregrinos 5. Visitar os enfermos 6. Visitar os presos 7. Enterrar os mortos; As sete obras de misericórdia espiritual: 1. Dar bons conselhos 2. Ensinar os ignorantes 3. Corrigir os que erram 4. Consolar os tristes 5. Perdoar as injúrias 6. Suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo 7. Rezar a Deus por vivos e defuntos.
A justiça é dar a cada um o que lhe pertence, ou seja, dar-lhe o seu; a misericórdia é dar a cada um do meu. Por isso, a misericórdia e a caridade superam a justiça.
Contudo, as obras de Misericórdia sem o amor não bastam e não servem à autêntica fraternidade e à santidade de vida. Sem o amor não somos humanos nem cristãos. S. Paulo avisa: «Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita» (1Cor 13, 3). A caridade dá muito que fazer: «O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, 5nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento.6Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade.7Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).
Como nos interpela Madre Teresa de Calcutá: «as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam….». Todavia se os lábios que rezam se unirem às mãos que dão acontece a felicidade a que nós chamamos santidade.
O coração tem necessidade de coisas grandes e só o Amor enche de paz, de paciência e de Esperança!
+ José Manuel Cordeiro




