Entrevista de D. José Cordeiro ao "Mensageiro de Bragança" | Diocese Bragança-Miranda
Completados quatro anos de bispado na diocese de Bragança-Miranda, D. José Cordeiro faz um balanço e traça os caminhos para o futuro da diocese. O Prelado mostra-se satisfeito pelo cada vez maior envolvimento dos leigos e mostra esperança na renovação sacerdotal. Mas alerta que todos têm “de sujar as mãos” e que “não há “insubstituíveis” na diocese, num claro aviso à navegação.
Mensageiro de Bragança: Após três anos, já tem praticamente concluída a visita pastoral a toda a diocese. Que balanço faz até ao momento?
D. José Cordeiro: Até ao momento Deus concedeu-me a saúde, a alegria e a graça de já visitar 283 paróquias das 326 Paróquias que a Diocese de Bragança-Miranda tem nos 4 Arciprestados de Bragança, Miranda, Mirandela e Moncorvo. Até julho próximo esperamos concluir esta primeira visita pastoral à Diocese. A realidade eclesial insere-se num tempo de despovoamento, envelhecimento e de baixa natalidade da população a exigir um olhar novo para a coesão social e territorial de Portugal para dar futuro ao presente.
MB.: Porque é importante a Visita Pastoral?
DJC.: Um ano depois da ordenação episcopal e início do ministério iniciei a visita pastoral sob a invocação e a proteção do Arcebispo santo, D. Bartolomeu dos Mártires, estando a ser um verdadeiro tempo de graça e momento especial, antes único, para o encontro e o diálogo com os irmãos fiéis e com a realidade das gentes e das terras do Nordeste Transmontano.
MB.: Como tem sido a receção ao bispo?
DJC.: Não é o Bispo o centro da visita, mas sim Cristo. A Ele têm olhado e aberto o coração, a vida, a porta das suas casas, das paróquias, das Unidades Pastorais, dos lugares de trabalho, de estudo e de sofrimento.
Tem sido excelente! A visita pastoral é o mais encantador da vida e do ministério missionário do Bispo.
MB.: Que caso ou situação mais o marcou?
DJC.: Muitíssimas pessoas me marcaram e guardo no coração o encontro com tantos doentes, com os mais sós, com os mais idosos, com os mais pobres, com as crianças, com os adolescentes, com os jovens e com os adultos. Admiro e agradeço a fé e a generosidade com que muitos Párocos e Leigos testemunham o Reino de Deus. A visita faz-nos crescer em fraternidade com uma consciência e sentido de pertença efetiva e afetiva maior a Cristo e à Igreja, para sermos cada vez mais uma família de famílias.
MB.: Após quatro anos à frente da Diocese de Bragança-Miranda, que evoluções nota?
DJC.: Sinto uma maior corresponsabilidade pastoral no Presbitério, nos Arciprestados, nas Paróquias, nas Unidades pastorais, nos serviços diocesanos e nos movimentos. O desejo de viver e repartir de Cristo nos caminhos da missão tem aumentado. No entanto, sinto que é um começo do recomeço na conversão pessoal, pastoral e missionária. O caminho sinodal que estamos a percorrer é a nota permanente da Igreja peregrina ‘em saída’ que queremos ser, respondendo também aos constantes apelos do Papa Francisco.
MB.: A instituição das Unidades Pastorais alterou significativamente o panorama administrativo da diocese. Que balanço faz?
DJC.: A reorganização pastoral em curso e a configuração nova do território espera uma mudança de mentalidade com o novo paradigma das Equipas pastorais. Sinceramente, o balanço é muito positivo. As 24 unidades pastorais territoriais caminham conforme as suas possibilidades. Temos três realidades diferentes: unidades pastorais com párocos ‘in solidum’ e equipa pastoral; unidades pastorais com um pároco e equipa pastoral; unidades pastorais com dois ou vários párocos e a equipa pastoral. As Unidades Pastorais que implementamos em 2012 na nossa Diocese de Bragança-Miranda procuram ser uma resposta aos novos desafios da Evangelização, à progressiva redução dos Sacerdotes e à corresponsabilidade pastoral de todos os fiéis num caminho pastoral de crescente sinodalidade.
MB.: Há mais alterações previstas?
DJC.: A Igreja está sempre em atualização num exercício de comunhão na fé. A partir de Julho de 2016, conclusão da visita pastoral, teremos um ano de reflexão e nos órgãos próprios da comunhão havemos de rasgar novos horizontes pastorais para melhor servir o Evangelho da Esperança e mostrar os mistérios de Cristo nesta realidade eclesial diocesana.
MB.: Esporadicamente, há alterações na distribuição de serviço pelo Clero, nem sempre bem compreendidas pelos fiéis, habituados a uma rotina. Porque esta necessidade de alterações?
DJC: As mudanças fazem bem a todos, aos Presbíteros e às comunidades, como temos verificado. Ninguém se pode sentir insubstituível e muito menos proprietário do Evangelho na Igreja. Somos apenas administradores e o que se nos pede é que sejamos fiéis a Cristo no dom do Seu Mistério e no ministério da Palavra, da Liturgia e da Caridade que realizamos. A disponibilidade do coração abre-nos para o serviço, na obediência da fé e do bem comum. As nossas mãos foram ungidas com o azeite perfumado, o bálsamo da unção, para a missão da alegria no serviço do Evangelho da Esperança. Contudo, a unção não significa que sejam intocáveis, são mesmo o contrário, é para as ‘sujar’. Há que as sujar. Àqueles que não querem sujar as mãos na realidade do mundo e da Igreja, avisava Charles Péguy “acabam rapidamente por ficar sem mãos”.
MB.: Já ordenou quatro sacerdotes. Tem havido uma renovação do clero na diocese? Há perspetiva de novos padres a curto prazo?
DJC.: Deus deu-me a graça de ordenar quatro Presbíteros. Este ano temos sete seminaristas maiores, quatro no Seminário Interdiocesano de S. José em Braga e três finalistas no Ano Pastoral no Seminário Diocesano de S. José de Bragança. Temos, ainda, o seminário menor do 10º ao 12º ano e o esperançoso Pré-seminário. Rezamos todos os dias pelo dom das vocações, especialmente de bons novos Padres sem ‘se’ e sem ‘mas’, que sejam “padres e só padres” (como disse S. João Paulo II), consagrados ao serviço inteiro do Evangelho, de que tanto precisámos.
MB.: Nota-se um envolvimento cada vez maior de leigos e movimentos nas atividades da diocese. Concorda? Traz-lhe esperança para a renovação da Fé neste cantinho do país?
DJC.: A formação inicial e permanente dos leigos é um grande desafio a que procuramos responder na oração, na catequese, na Liturgia, na caridade, nos retiros, nas conferências, no Instituto Diocesano de Estudos Pastorais (IDEP), nas Unidades Pastorais, nos Arciprestados, nas obras sociais católicas, nos secretariados e serviços diocesanos e nos Movimentos. Temos muita esperança e confiança nos Fiéis Leigos!
“Dossiês difíceis estão bem encaminhados”
MB.: Quando foi nomeado, herdou alguns dossiês mais difíceis economicamente, como a catedral, a Casa de Trabalho ou o Mensageiro de Bragança, que em 2010 estava numa situação dramática financeiramente. Quais os mais complicados de resolver e qual o ponto da situação dos organismos diocesanos?
DJC.: Felizmente que hoje os dossiês mais difíceis a que se refere e outros estão bem encaminhados como as Fundações Casa de Trabalho e Mensageiro de Bragança e alguns como o da dívida da Catedral já resolvidos. A identidade, a gestão, a sustentabilidade, a missão e a eclesialidade destas pessoas jurídico-canónicas estão de boa saúde. Agradeço a Deus e a muitas Pessoas, Famílias e Instituições, Presbíteros, Diáconos, e Leigos da Diocese e de fora dela, que ajudaram e ajudam com a sua inteligência, competência e grande generosidade e gratuidade. Na caridade pastoral e na sobriedade queremos estar com todos, em especial com os que mais precisam e continuar a dignificar os nossos compromissos na verdade, na liberdade, na justiça e na paz.
“Estamos a preparar o caderno de encargos para poder alugar o Seminário de Vinhais”
MB.: Que projetos tem em vista na diocese?
DJC.: Após um longo estudo e juntamente com a direção do Instituto Diocesano do Clero e os órgãos próprios da Diocese estamos a preparar o caderno de encargos para alugar o Seminário de Vinhais e continuamos à espera das melhores propostas para a venda da ‘casa do Clero’ em Cabeça Boa. Este é o tempo de convergências e não de fragmentação de pessoas e de estruturas para o maior bem de todos.
MB.: A Casa Pastoral é uma necessidade. Porquê?
DJC.: Pensámos em requalificar o edifício central do Seminário de S. José para a casa pastoral diocesana. Aqui, gostaríamos de ter uma casa aberta a todos, ou seja: uma casa do Presbitério, como casa de convívio e de formação permanente dos Pastores em todas as fases da vida sacerdotal; um lugar de retiros; o IDEP; uma biblioteca; um auditório; quartos para alojamento completo. Contamos com todos para a realização deste sonho ao serviço da evangelização. Na Quaresma de 2016 faremos uma campanha de angariação de esmolas em ordem a assumir um maior compromisso diocesano. Logo que possível, gostaríamos de começar a obra.
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Entrevista concedida pelo bispo diocesano ao semanário "Mensageiro de Bragança".





