Homilia D. José Cordeiro | Abertura do processo sinodal | Diocese Bragança-Miranda

Como caminhar juntos na nossa Igreja diocesana?

Abertura do processo sinodal

Catedral, 17 de outubro de 2021

 

1. Caminhar juntos

Iniciamos hoje uma etapa nova e surpreendente na Igreja. Juntos somos a Igreja serva, que educa, celebra e festeja. Somos um povo em caminho na graça de percorrermos um caminho sinodal com toda a Igreja Católica, sob o tema: «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão».

Os três pilares no processo sinodal são: comunhão, participação e missão. Não se trata de recolher opiniões, mas de encontrar o Espírito Santo no discernimento da escuta recíproca e de sentir a voz e a presença de Deus.

A sinodalidade tem a sua fonte, o seu centro e o seu cume na celebração litúrgica. A primeira fase deste processo sinodal, a etapa de consulta diocesana, que vai de outubro de 2021 a final de março de 2022, está norteada pelo Documento Preparatório, pelo Vademecum para o Sínodo sobre a Sinodalidade e por outros documentos e, sobretudo, pela escuta pessoal e comunitária da Palavra de Deus e a escuta e o diálogo de uns com os outros. Na verdade, a sinodalidade é muito mais que um Sínodo.

Não partimos do zero. Conscientes que a sinodalidade é o estilo próprio da vida e da missão da Igreja, queremos consolidar nos âmbitos permanentes da comunhão sinodal: no Conselho Presbiteral, no Colégio dos Consultores, no Conselho Pastoral Diocesano, no Conselho episcopal, no Conselho diocesano para os assuntos económicos, conselhos paroquias dos assuntos económicos (fábricas da igreja), direções e colaboradores das IPSS’s e outras realidades da diaconia da caridade, nas Comissões diocesanas, nos Secretariados e Serviços diocesanos, nos Conselhos pastorais das Unidades Pastorais, no Conselho pastoral dos Arciprestados, nas comunidades e pessoas de vida consagrada, nos Movimentos, nos grupos eclesiais e na Piedade popular.

Com as nossas possibilidades e limites, propomo-nos também escutar outras realidades da pastoral antropológica e territorial: sociais, políticas, económicas e culturais. Gostaríamos, ainda, de escutar outras pessoas que raramente são ouvidas: os pobres, os reclusos, os migrantes, as pessoas com deficiência, as minorias étnicas e as outras periferias existenciais e os gemidos da recente pandemia que são invisíveis na cidade, na vila ou na aldeia.

Enfim, a sinodalidade é uma dimensão integrante da Igreja, ao mesmo tempo, «um ato de governo e um evento de comunhão», segundo a lógica da circularidade dinâmica de: “todos”, “alguns” e “um”. Todos os membros da Igreja somos convocados à consulta, alguns (equipa e assembleia sinodal) são chamados a discernir, um (o Bispo Diocesano) é quem tem a decisão na proximidade a Deus, ao Colégio episcopal, ao Presbitério e a todo o povo santo de Deus.

 

2. Escutar, discernir e participar

Igreja serva, quer dizer, a Igreja que escuta a Palavra de Deus e que escuta a realidade do povo santo de Deus, com a mente e o coração abertos sem preconceitos.

Ao anunciar o Evangelho, uma Igreja sinodal “caminha em conjunto”: como é que este “caminhar juntos” se realiza na nossa Igreja diocesana? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?

Ao responder a estas perguntas, somos convidados: a recordar as nossas experiências, a reler estas experiências mais profundamente e a colher os frutos para compartilhar. Escutar já é missão! Sonhamos uma Igreja para todos!

Caros irmãos e irmãs: é preciso acreditar e amar a Igreja, serva e esposa de Jesus Cristo! «Renovai, Senhor, a vossa Igreja de Bragança-Miranda com a luz do Evangelho. Fortalecei o vínculo da unidade entre os pastores e os fiéis do vosso povo, (...) de modo que, num mundo dilacerado pela discórdia, a vossa Igreja resplandeça como sinal profético de unidade e concórdia» (Oração Eucarística V/A).

Todavia, «Quantas vezes ouvimos dizer: “Jesus sim, a Igreja não”, como se um pudesse ser alternativa à outra. Não se pode conhecer Jesus, se não se conhece a Igreja. Só se pode conhecer Jesus por meio dos irmãos e irmãs da sua comunidade. Ninguém pode dizer-se plenamente cristão, se não viver a dimensão eclesial da fé». 

 

3. A gramática do dom de caminhar juntos

Hoje, na oração coleta pedimos: «dai-nos a graça de consagrarmos sempre ao vosso serviço a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso coração». Na gramática do dom de caminhar juntos, todos precisamos de todos, mas em espírito de serviço dedicado, sincero e humilde do coração.

O Batismo é o ponto de partida para todos.

O Papa Francisco recorda-nos bem o sentido da importância da escuta: «Uma Igreja sinodal é uma Igreja da escuta, ciente de que escutar “é mais do que ouvir”. É uma escuta recíproca, onde cada um tem algo a aprender». Queremos, portanto, escutar o que o Espírito Santo nos quer dizer, escutando-nos uns aos outros.

Na verdade, conforme o Vademecum para o Sínodo sobre a sinodalidade: «se escutar é o método do Processo sinodal e discernir é o objetivo, então a participação é o caminho». Caminhemos juntos nas desafiantes atitudes: escutar, servir e amar.

Jesus, verdadeiro mestre, educa os seus discípulos acerca do poder e da autoridade para a humildade e o serviço, ou melhor não ter autoridade, mas ser autoridade credível. A glória vem depois da cruz. Na comunidade cristã, a autoridade vem do serviço. Se não sirvo, a que sirvo? Deus, nosso amigo e servidor, lava-nos os pés. A lógica cristã da autoridade é a da imitação de Jesus Cristo no serviço!

O estilo sinodal é um caminho com Deus e com a humanidade para viver uma experiência humilde e desinteressada na lógica do serviço: «o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos». Por isso, o caminho é o do serviço e da conversão.

Caminhemos juntos com entusiasmo. Bom caminho!

+ José Cordeiro

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Fotografia: Manuel Cardoso