Projeto Pastoral 2017-2020 | Diocese Bragança-Miranda

Visão

Uma Igreja desperta, que vive e proclama, nos areópagos de hoje, a alegria do encontro vital com Jesus Cristo.

Meta

Promover a iniciação cristã, como processo de formação integral da fé, que implique um estilo e atitude de viver como discípulo missionário em fidelidade ao amor de Deus.

Tema Geral

"Por Cristo, com Cristo e em Cristo"

Justificação

Desde o ano 2012 que o povo de Deus, na realidade social e cultural da Diocese de Bragança- Miranda, foi fazendo um percurso de crescimento qualitativo na fé, no chamamento à santidade, deixando-se conduzir pela Palavra de Deus e exemplo da Virgem Mãe. Foram cinco anos de peregrinação desde Cristo nos caminhos da missão nestas terras nordestinas. Como peregrinos, queremos continuar o caminho de aproximação ao coração misericordioso de Deus.

Nestes próximos três anos queremos "voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho, deixando-nos surpreender com a sua constante criatividade divina" (EG 11) caminhando no interior do único mistério do amor ardente de Deus que é Dom, Luz e mistério de Vida eterna. A nossa atitude de descoberta e inclusão requer o descalçar as sandálias, tal como Moisés, para caminhar em Cristo para o Ser sagrado de Deus.

Este caminho de iniciação consciente de viver como cristão é um tempo de procura, de desassossego na nossa vida, de escuta, interpretação e tradução, paciente e responsável, do Evangelho que nos faz bem-aventurados. O caminho de Jesus é exigente e árduo, não é uma estrada confortável e de fácil acesso, mas conduz ao abraço feliz e alegre com o Senhor.

O porquê desta caminhada em dinâmica e atitude catecumenal?

É constatação geral que os cristãos, ainda que com boa vontade, vivem a sua condição de discípulos missionários limitados por um ardor de tradicionalismos, uma piedade sentimental professando a fé com respostas "pré-fabricadas" que revelam noções religiosas de conveniência desligadas da vida e a assumir uma atitude de apatia ou indiferença que expressa um amor distorcido para com Deus e que paralisa a vivência holística/integral da fé reduzindo-a à esfera "do que posso" sem ardor e beleza.

A privatização da fé, como exigência do secularismo, leva a que alguns tenham uma imagem desvirtuada de Deus fruto da mistura do agnosticismo e do apateísmo (falta de interesse por Deus e pela Igreja) que os "torna surdos à maravilhosa música mística do silêncio de Deus" (Tomás Halík) contraindo-os para uma espécie de eclipse de Deus com um vazio religioso de consciências impeditivo de descobrir a originalidade vivificante da vinculação a Jesus Cristo.

Ser cristão é frequentar todos os dias a "Escola das virtudes teologais" para aprender a acreditar no amor de Deus, acolher os Seus desafios e empenhar-se na construção da história da humanidade acompanhados pela bênção de Senhor que dá pleno significado à nossa existência e "rompe os esquemas enfadonhos quem que O pretendemos aprisionar" (EG 11).

A Igreja diocesana, como comunidade de crentes convocada pelo Senhor, trilhará o percurso de "encontrar, acompanhar e cuidar" de cada um dos seus filhos a quem proporá, com responsabilidade e fidelidade, um roteiro de "reconhecer, interpretar e acolher" o Evangelho de Jesus Cristo e abrindo caminhos novos de uma acção pastoral mais atenta às novas situações de fé das pessoas, mais dialogante e acolhedora.

Apresentação

Um Projeto Pastoral Diocesano implica, em si mesmo, pontes de confluência da comunhão "Por Cristo, com Cristo e em Cristo", mas, simultaneamente, um dinamismo implicativo para que o Evangelho fecunde a realidade concreta de cada Comunidade Cristã e de cada discípulo missionário de Cristo.</br>

Assim, no Projeto Pastoral Diocesano, promotor do encontro vital com Cristo, estão visíveis os traços de uma Pastoral de sinodalidade, de conjunto organizada desde as sinergias comuns e singulares do tecido eclesial, antropológico e territorial, mas aberto à criatividade gestativa e hospitaleira de cada arciprestado, unidade pastoral, paróquia, movimento de espiritualidade e novas comunidades eclesiais.
O cristianismo não é fruto da procura de Deus por parte da pessoa humana, mas foi Deus quem tomou a iniciativa de revelar-se à humanidade no tempo e na história. Na revelação Deus encontra-se com o homem e este tropeça no próprio Deus que declara quem é, como pensa e atua. Isto incita-nos para uma pastoral de diálogo e anúncio que se "concentra no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário" (EG 35).

Este projecto pastoral, que visa a proposição compreensível e fértil do Evangelho de Jesus Cristo, é formado por um itinerário de três anos, alicerçado gradualmente no anúncio kerigmático, uma catequese mistagógica e uma sistematização, profissão e testemunho pessoal das verdades da fé, procurando responder às três questões fundamentais da cristologia:

1. Tu quem és? A divindade do Senhor

2. Tu porque és? Jesus Cristo é o salvador

3. Tu como és? Deus-Homem

A aplicação deste projecto Pastoral é "pôr em comunhão com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai, no Espírito, e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade" (CEC 426) facilitando o acesso à graça e não gastando energias para controlar a vivência religiosa dos fiéis (Cf. EG 95).

Em cada um dos anos será reflectido um sacramento da Iniciação Cristã e uma virtude teologal para nos introduzirem no mistério indizível de Deus, que não precisa de ser criado mas descoberto, e nos vincularem num caminho sinodal de comunhão e de pertença à Igreja diocesana. Isto implica que da parte dos Párocos, Equipa Pastoral da Unidade, Conselho Pastoral da Unidade e dos diversos organismos de promoção e desenvolvimento pastoral de âmbito diocesano e arciprestal assumam este projecto, o divulguem e executem no respeito pela singularidade e ritmo das diversas comunidades cristãs.

A dinâmica interna de cada ano pastoral congrega-se no exercício da missão, não de evangelizadores qualificados, mas do "Povo de Deus, com os seus gestos e sinais inumeráveis, é o sujeito colectivo da evangelização" (EG 129) segundo a tríplice ministerialidade de Cristo e da Igreja: sacerdotal, profética e real.'

Desafios

a) Participação no sacerdócio de Cristo

O sacerdócio de todos os batizados é entendido como a oferta existencial do cristão a Deus (Cf. Rm12,1). É um sacerdócio exercido por todo o Povo de Deus, de forma permanente em todos e cada um dos atos da vida: é um sacerdócio existencial. O Pe. Congar diz que está constituído “por todos os aspetos pelos quais nos orientamos para Deus e nos encontramos de novo com Ele, sendo a morte o último e mais decisivo desses momentos”. Na conclusão da carta pastoral Liturgia, a primeira escola da fé, o Bispo Diocesano interpelava a Diocese com as duas prioridades de S. Bento, o mistério de Cristo e a Liturgia, que exigem: “não prefiram absolutamente nada a Cristo” e “nada anteponham ao serviço divino”.

Este múnus coloca desafios inadiáveis para facilitar e promover o encontro com Jesus Cristo através de uma participação ativa, plena e consciente:

  • A celebração litúrgica do Domingo, o fundamento e o centro do Ano Litúrgico
  • A compreensão e o uso adequado dos sinais e símbolos litúrgicos
  • A valorização dos rituais e da piedade popular
  • A celebração visível do mistério dos sacramentos
  • A adequada e profícua preparação para celebração dos Sacramentos
  • O património litúrgico e de arte sacra como mediação do encontro com Deus
  • A formação dos ministérios litúrgicos como expressão de uma igreja ministerial que celebra a Liturgia de forma consciente, participativa e plena
  • A música e o canto litúrgico como expressão de oração e participação da comunidade celebrativa
  • As Igrejas fechadas ou desprovidas de acolhimento que impedem o encontro com “Jesus escondido” (S. Francisco Marto)
  • A conservação, manutenção e funcionamento das Igrejas

b) A participação na missão profética de Cristo

A dimensão profética é o anúncio explícito de Cristo com a vida e com o dom da palavra nos ambientes onde cada um vive. O anúncio e o testemunho permitem comunicar o Evangelho e dar credibilidade à Mensagem. Jesus cumpriu a vontade do Pai e realizou a missão salvadora entre os homens com Palavras e obras. Isto exige uma preparação adequada, como refere o Concílio para os leigos, “com diligência a conseguir um conhecimento mais profundo da verdade revelada, e peçam insistentemente a Deus o dom da sabedoria” (LG 35) e que se encontrem formas adequadas e inteligentes para o anúncio criativo e fiel da Palavra de Deus. Neste sentido alertou-nos o nosso Bispo na sua carta pastoral para o Ano da Bíblia “ser ouvinte da Palavra, significa um confronto permanente da Palavra com a existência e vice-versa. Para tal exige-se tempo, estudo, oração, contemplação. Com efeito, a evangelização nasce da escuta. A escuta é uma arte a cultivar, para viver segundo a lei escrita no coração. Escutar a Palavra é ser acolhido pela Palavra e aqui acontece o encontro”(Pg. 10).

Os desafios que este amplo e variado sector da pastoral nos colocam impulsionam a qualidade e fidelidade do anúncio:

  • O acolhimento e compreensão da Palavra de Deus
  • A valorização da escuta e a proclamação da Palavra
  • As modalidades do anúncio da Palavra “mais penetrante que uma espada de dois gumes”(Hb 4,12)
  • Uma catequese de encontro com Jesus Cristo e de vinculação à comunidade cristã
  • O itinerário catecumenal, a catequese de adultos e a catequese familiar
  • O anúncio da centralidade do querigmanos areópagos de hoje
  • A Lectio Divina nas comunidades cristãs
  • A formação de animadores e catequistas
  • Escola de pais
  • O percurso cristão, livre, consciente e participativo, dos jovens na igreja e na sociedade
  • A família cristã como Igreja doméstica evangelizada e evangelizadora
  • A disciplina de EMRC como veículo de conhecimento e inclusão eclesial
  • A homilia
  • A comunicação social diocesana e as redes sociais
  • A pastoral vocacional

c) A participação na dimensão real de Cristo

A transformação do mundo converte-se como objetivo principal da evangelização realizada pelos cristãos que comunicam a liberdade interior dada por Cristo que supera o pecado e aceita o amor de Deus provocando que a convivência social e política se vai fazendo mais justa, fraterna e solidária. Este compromisso cristão promove a espiritualidade laical que consiste em viver a justiça, a paz e o amor que brotam do Evangelho, mas que não afastam os cristãos das obrigações que têm como cidadãos do mundo, pois para a fé não há espaços neutros “devem os fiéis aprender a distinguir cuidadosamente entre os direitos e deveres que lhes competem como membros da Igreja e os que lhes dizem respeito enquanto fazem parte da sociedade humana. Procurem harmonizar entre si uns e outros, lembrando-se que se devem guiar em todas as coisas temporais pela consciência cristã, já que nenhuma actividade humana, nem mesmo em assuntos temporais, se pode subtrair ao domínio de Deus” (LG 36).  Escreveu o Bispo diocesano na carta para o Ano da santidade “Deixar-se envolver pelo amor de Deus e envolver-se no anúncio do Evangelho, na celebração litúrgica e na prática do Bem, é o enorme desafio que está ao alcance de todas as pessoas que se sentem amadas por Deus” (Pg.13-14).

O desafio de fazer o Bem, e bem feito, exige uma atitude evangelizadora que provoque positivamente os demais e possam interrogar-se, como refere Tertuliano em relação à admiração que os cristãos provocavam nos pagãos, “vede como eles se amam!” (Apologética 39):

  • O exercício da caridade não formal
  • A pastoral de “saída” aos doentes, aos idosos, aos mais frágeis da sociedade
  • A pastoral das pessoas portadoras com deficiência
  • O acompanhar, discernir, integrar a fragilidade dos casais
  • Os movimentos de espiritualidade fundados nas obras de misericórdia
  • O voluntariado cristão
  • A rede de Centros Sociais Paroquiais: gestão e ambiente de evangelização
  • O turismo religioso
  • A pastoral comunitária e o exercício da cidadania – como a Igreja promove a comunhão nas comunidades
  • A estrutura e funcionamento das Unidades Pastorais
  • As estruturas de comunhão e missão da Igreja na Diocese, Arciprestado e Unidade Pastoral
  • A relação eclesial com os membros da vida consagrada

Bibliografia Orientadora

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA, Catequeses para a iniciação cristã dos adultos, Fátima 2016

CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Carta Pastoral, Catequese: A alegria do encontro com Jesus Cristo, Lisboa 2017

BERNARD SESBOÜÉ, Convite a pensar e viver a Fé no terceiro milénio, Coimbra 2009

FELICÍSIMO MARTÍNEZ DÍEZ, Crer em Jesus Cristo, viver como cristão, cristologia e seguimento, Coimbra 2007

TOMÁS HALÍK – ANSELM GRÜN, O abandono de Deus, Quando a crença e a descrença se abraçam, Prior Velho 2017

CASIANO FLORISTÁN, Para compreender o Catecumenado, Coimbra 1995

TIMOTHY RADCLIFFE, Imersos na vida de Deus, viver o Batismo e a Confirmação, 2013

JOSÉ ANTONIO PAGOLA, Voltar a Jesus, Para a renovação das nossas paróquias e comunidades, Apelação 2015

Última Atualização em 01.12.2017