[1]Dom, 27/03/2016 - 21:07
Catedral, 27.03.2016
Na Vigília pascal, o batistério da igreja Catedral brilhou intensamente, revestindo-se de um dinamismo mais emblemático, onde os sinais da água, da luz, da arquitetura, da arte, da cor, da hospitalidade, do perdão, da memória e da caridade indicam mais expressivamente a Iniciação cristã na casa da Igreja diocesana e a entrada no caminho da santidade.
Os mosaicos deste espaço litúrgico formam um tríptico de pedaços de pedras coloridas e justapostas, constituindo a simbólica da unidade e da harmonia da fé eclesial. O quadro narrativo do Batismo de Jesus é ladeado pelos desenhos da narrativa dos discípulos de Emaús e pela cena do Anjo da vida. A cada um dos painéis corresponde uma árvore representativa do vasto território da Diocese de Bragança-Miranda: a amendoeira, o castanheiro e a oliveira.
Hoje, gostaria de contemplar convosco o mosaico da Páscoa de Emaús. A manifestação da Páscoa acontece, na conversão dos olhos do coração, no dia que não tem fim.
Jesus Cristo é o companheiro próximo e amigo da humanidade, como a narrativa de Emaús o testemunha (Lc 24, 13-35). Conforme a narrativa de Lucas, dois dos seus discípulos caminham amargurados e desiludidos. Abandonam Jerusalém e com ela, deixam os sonhos e as esperanças. De facto, a tentação é sempre a mesma, de querer um Jesus à nossa imagem e semelhança, projetando Nele as nossas ideias e objectivos, como se fosse um ídolo. Eles, como nós, tantas vezes com o coração ferido somos incapazes de acolher a alegria transbordante da Páscoa.
Enquanto caminham um ilustre desconhecido, mas distinto peregrino junta-se a eles e dialoga sobre os acontecimentos da história da salvação. Quando tudo parece fracassar, Jesus faz-se companheiro de viagem, acolhendo as confidências, na partilha da vida, da palavra das Escrituras e na fração do pão.
Na verdade, ser apenas peregrino (per – agrum), caminhar pelo campo da vida, ou ser peregrino com Cristo, acolher Cristo e ser acolhedor como Ele, faz toda a diferença. Temos de deixar florir a bastão que levamos connosco, como se representa no mosaico.
Somos um povo de peregrinos, para sermos cada vez mais um povo pascal.
O sepulcro aberto proclama a alegria da presença viva e ressuscitada de Cristo e a Igreja pede-Lhe incessantemente: «Fica connosco, Senhor», para que seja sempre Hoje.
A narrativa pascal atinge o seu vértice quando o desconhecido peregrino, sentando-se à mesa com os dois discípulos desiludidos com o fim trágico de Jesus de Nazaré, «tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no». Jesus Cristo, o Ressuscitado, manifesta-se vivo com o mesmo gesto (fractio panis) o grande gesto que realizou na noite da instituição da Eucaristia.
A todos e a cada um de vós e aos que vos são mais próximos e queridos; a todos os nossos irmãos que sofrem, que são perseguidos, que têm de fugir à guerra e à fome, que estão doentes, que estão presos, que vivem sós, que são migrantes, que são marginalizados, que passam necessidades corporais e espirituais; convido à coragem e à confiança da santidade e da misericórdia divina e abençoo em nome de Cristo Ressuscitado, nossa Páscoa e nossa Paz.
Cristo Ressuscitou! Aleluia!
+ José Manuel Cordeiro
