[1]Qui, 21/01/2016 - 15:47
O presidente da Caritas do Líbano disse que a ajuda aos refugiados “está à beira do colapso”, durante o XVI Encontro de Animadores Sociopastorais das Migrações, que decorreu no Seminário de S. José, em Bragança, entre sexta-feira e domingo.
“O sistema de ajuda internacional para os refugiados sírios e iraquianos está à beira do colapso”, afirmou o Pe. Paul Karam, que divulgou também que a questão das migrações acarreta consequências “dramáticas”, uma vez que só no Líbano já entrou mais de um milhão de pessoas em fuga. Atualmente uma boa parte dos quatro milhões de habitantes que constituem a população libanesa são refugiados, pelo que a capacidade de resposta é cada vez mais difícil. “Muita gente da Síria tem entrado no Líbano, com situações precárias a nível sanitário, humano, alimentar e higiénico”, explicou.
A Portugal só ainda chegaram 24 refugiados. Não se sabe quando virão mais, mas estão criadas condições para receber entre 500 a 600, uma vez que de Norte a Sul do país existem respostas. “Falta que a União Europeia se decida. É preocupante esta demora, quando até se pediu para olhar humanamente para esta questão. Vem aí o inverno”, referiu Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica das Migrações, que defende que é melhor colocar os refugiados “em comunidades pequenas do que em campos, onde as condições são desumanas”.
Bispo de Bragança defende “mais políticas públicas solidárias”
D. José Cordeiro, bispo da diocese de Bragança-Miranda, destacou que “a Europa está a falhar nas suas raízes mais humanistas, de acolhimento e de hospitalidade por medo e outras questões”. Face ao cenário defende que são necessárias mais “políticas públicas solidárias capazes do acolhimento” e afirma que é preciso que em Portugal se diga que a Igreja tem disponibilidade. “Na Igreja ninguém é estrangeiro e está a fazer-se tudo para acolher com dignidade e responder com hospitalidade aos que vierem bater à nossa porta”, afirmou.
O bispo diocesano deu conta que em Bragança “já existe alguma disponibilidade” no âmbito da Igreja, de algumas paróquias, institutos e de algumas Santas Casas da Misericórdia, bem como no âmbito das autarquias. “Estão preparadas as condições para acolher quem nos for enviado”, garantiu.
O prelado considerou a presença do presidente da Caritas do Líbano “interpeladora” porque se trata de um país em que um quarto da sua população é composta por refugiados. “Queremos manifestar essa gratidão ao Líbano pelo acolhimento”, disse D. José Cordeiro.
Está tudo a postos para receber quem vier, mas Eugénia Quaresma realça que em Portugal também é preciso mudar muitas coisas: “a começar por um rosto diferente, para além de toda a assistência que tem que ser prestada, e estimular a comunidade a combater o medo”.
A União Europeia comprometeu-se a recolocar 160 mil refugiados, mas só ainda foram distribuídos mil. “Países como Itália, Grécia e Turquia continuam sobrecarregados porque não há uma política de acolhimento, integração e falta este projeto a longo prazo”, afirmou Eugénia Quaresma.
Já o bispo de Lamego, D. António Couto, lamentou que muitos portugueses ainda estejam de “pé atrás” sobre o acolhimento aos refugiados.
Presidente da Cáritas diz que lentidão “é incompreensível”
A lentidão, que “é incompreensível”, para o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, está relacionada com questões de segurança, pelo que pede mais transparência. “Se há razões por questões de segurança internacional, como o terrorismo, que não possam divulgar e esclarecer, que digam às organizações que têm dado o seu esforço e que haja mais transparência no processo”, justificou. Eugénio Fonseca criticou ainda “o imobilismo da Europa”, onde ainda não se chegou a um consenso político. Por outro lado, defende que os refugiados devem ser bem acolhidos e apoiados num primeiro momento, nomeadamente com habitação e ajuda psicológica, “mas não devem ter regalias especiais relativamente aos portugueses”.
Silva Peneda, presidente do Conselho Geral da UTAD, que participou no painel “Um mundo sem fronteiras”, no sábado, lembrou que Portugal tem “uma história” no acolhimento de refugiados, referindo-se aos portugueses que regressaram das ex-colónias. “No espaço de meses recebemos quase 10 por cento da população, no fim da guerra de África e no processo de descolonização. A sociedade conseguiu receber e integrar plenamente os cidadãos que apareceram. A nossa capacidade de integração é exemplar em termos mundiais”, destacou. Também a integração dos portugueses nos países que os acolhem “é assinalável, ao contrário de outros, que criam guetos e problemas”, acrescentou Silva Peneda, que diz que os atrasos na colocação dos refugiados europeus acontecem por causa de processos “burocráticos e não por culpa nossa”.
Silva Peneda diz que falta “visão a médio prazo
A falta de visão “de médio prazo” na Europa, onde serão preciso muitos milhões de pessoas, é um problema que Silva Peneda considera. “Vê-se tudo de uma forma imediatista, para o curto prazo. Quando a Europa vai precisar destes imigrantes. Basta olhar para a evolução demográfica nos próximos 30 anos e vamos ter necessidade de muita força de trabalho, porque a população entre os 15 e os 34 anos vai decrescer. Essa gente só pode vir do Norte de África e do Médio Oriente”, afirmou. Com o olhar no futuro, Silva Peneda diz que o caminho devia começar a ser preparado já: “Pondo esses estudantes a estudar em Portugal, escolas a lecionar nesses países de origem, como elementos fundamentais para uma integração futura”, sublinhou.
O XVI Encontro terminou no Santuário de Balsamão, com a abertura da Porta da Misericórdia no final da Eucaristia presidida por D. José Cordeiro.
Texto e fotografias: Mensageiro de Bragança.
Ficheiros:
| Anexo | Tamanho |
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| 4.45 MB |

