«Padre, Ungido na Vocação-Missão" | Homilia da Ordenação Presbiteral - 06.07.2019 | Diocese Bragança-Miranda

Ordenação Presbiteral, Catedral de Bragança, 6.7.2019

PADRE, UNGIDO NA VOCAÇÃO-MISSÃO

 

1. Peregrinos na alegria da Paz

O Senhor Jesus «designou setenta e dois discípulos e enviou-os à sua frente, dois a dois, a toda a cidade e lugar onde Ele estava prestes a ir». A referência aos setenta e dois discípulos remete para a universalidade da vocação-missão, ou seja, para uma tradição judaica onde o número 72 significava toda a terra, todas as nações conhecidas do mundo. Este é o sonho missionário de chegar a todos.

A vocação-missão supõe sempre um envio. No entanto, o envio missionário não é isolado, mas em fraternidade e comunhão, ao menos de dois a dois. Sim, discípulos missionários em comunhão com Cristo, com a Igreja e com a “humanidade da humanidade”.

A vocação-missão é uma atitude de fé inteira no “Senhor da messe”, porque a desproporção é grande, já que “a messe é grande e os trabalhadores são poucos”, sendo o desafio ainda maior, porque nos aponta para o essencial, para a pobreza e para a liberdade. É preciso um desapego básico dos bens. Essencialmente, a vocação-missão parte da oração: «Pedi ao Senhor messe...». Por isso, sem oração, sem Liturgia, não há missão.

O nosso santo Bispo Bartolomeu dos Mártires dizia: «Ficai sabendo que a tranquilidade da vossa consciência depende do cumprimento destes dois preceitos. Pregação e exemplo. Mas, se quereis ser prudentes, juntai-lhe um terceiro. O amor da oração. E, assim, ficam estas três coisas: a pregação, o exemplo e a oração, mas a principal é a oração». Assim se combate a omissão, pois «a omissão é um pecado que se faz não fazendo» (P. António Vieira).

Todavia, a alegria plena do serviço da missão é saber que os nomes dos peregrinos na alegria da paz são «inscritos nos céus».

 

2. Compassivos e misericordiosos

Os Presbíteros são vocacionados como homens de Paz. A sua missão é viver e transmitir a alegria da Paz, que é o próprio Jesus Cristo, nossa Páscoa e nossa Paz.

S. Policarpo de Esmirna, discípulo do Apóstolo S. João, escreveu aos Filipenses: «Os presbíteros sejam compassivos e misericordiosos para com todos; reconduzam ao bom caminho os errantes, visitem todos os enfermos, sem descuidar a viúva, o órfão ouo pobre; procurem fazer sempre o bem diante de Deus e dos homens, abstendo-se de todaa ira, da acepção de pessoas, do juízo injusto e de toda a espécie de avareza; não acreditem facilmente no mal que se diz contra alguém, não julguem com excessiva severidade, tendo sempre presente que todos somos pecadores».

Caros Presbíteros, continuai sempre a diaconia da caridade na visita às pessoas doentes e mais velhas e mais vulneráveis das comunidades que vos estão confiadas, manifestando a proximidade de Cristo nas famílias, nas casas, nas ipss’s, no coração de quem sofre, de quem vive só e à espera de uma bênção, de um beijo, de um abraço e de uma mão que abençoa, aperta e consola.

 

3. Do Dom da Esperança para o Mistério da Luz

Pela imposição das mãos do Bispo e a oração de ordenação confere-se o dom do Espírito Santo aos presbíteros. Também o Presbitério impõe as mãos significando a acolhimento no Presbitério, a Ordem dos Presbíteros.

Enfim, «o presbitério é um mysterium: de facto, é uma realidade sobrenatural porque se radica no sacramento da Ordem. Este é a sua fonte, a sua origem. É o “lugar” do seu nascimento e crescimento» (PDV 74). Ser presbítero é ser testemunha do mistério pascal, ser fiel administrador dos mistérios do Senhor e viver aquilo que se celebra, renovando, na liturgia da vida, o dom recebido da fonte sacramental. É o presbitério que faz o presbítero, porque o presbitério não é uma soma de presbíteros, mas um mistério de comunhão em si mesmo, começado no tempo do seminário e prolongado na fraternidade pastoral. Amar a unidade e fugir da divisão é para nós uma conversão permanente.

A unção das mãos com o azeite consagrado e perfumado do crisma é acompanhada desta exortação: «O Senhor Jesus Cristo, a Quem o Pai ungiu pelo Espírito Santo e seu poder, te guarde para santificares o povo cristão e ofereceres a Deus o sacrifício». As mãos são untadas com o azeite perfumado para abençoarem, para implorarem a ação transformadora de Deus nos sacramentos e na vida, para trabalharem, para ser presença da bondade de Deus, para fazer o bem e bem feito. Por vezes a mão é comparada ao olho, o que significa que as mãos veem, portanto: «colocai nas mãos de Deus qualquer preocupação, pois é Ele que cuida de vós» (1Pd 5,7).

O Padre é um fiel batizado, crismado, que vive da Eucaristia «fonte e ponto culminante de toda a Evangelização» (PO 5) e enviado para o serviço inteiro do Evangelho e não procurar o poder. Assim o reconhecemos na Oração Eucarística II: «Vos damos graças porque nos admitistes à vossa presença para Vos servir nestes santos mistérios».

Na verdade, o Presbitério é chamado a ser um lugar de esperança e de luz, porque é obra da Santíssima Trindade e conduz à fraternidade sacramental dos presbíteros entre si e o povo santo de Deus.

+ José Manuel Cordeiro

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Fotografia: Bruno Luís Rodrigues/SDCS.